11.18.2008

O silêncio dos amantes



Já disse Bethoven: “Não interrompa o silêncio se não for para melhorá-lo”. Foi nisso que pensei quando comecei a ler o livro de Lya Luft, “O silêncio dos amantes”. Primeiro, porque me instigou o que seria esse silêncio “apaixonado” e segundo porque o que seria melhor que o silêncio? Foi com esses dois pensamentos que passei as 159 páginas de histórias fantasiosas criadas pela autora. São contos de pessoas comuns, pessoas como eu e você, que não entendem nada (ou pouco) da vida, mas que mesmo assim vivem com vigor todos os dias. Pessoas que, por vezes, não percebem o silêncio, aquele que vem de dentro, que apazigua, que eleva.
Foi pensando também nos vários momentos de silêncio que temos que supus existirem várias formas de calar. Há o silêncio tristonho, ofegante, decrépito, apaixonado, esperançoso, momentâneo, incrédulo e perpétuo (e com certeza poderiam ser citados tantos outros). Para cada um deles um lugar, uma feição, um sentimento. Assim, cada silêncio revela uma emoção, ou a falta dela. Mas, antes que o nosso pensamento se perca, a autora lembra: “silêncio demais vira lamento”.
É dessa forma que Lya Luft apresenta histórias de pessoas apaixonadas, ora pela vida, ora pelos filhos, marido, pais e mães. Fala dessa paixão que mantém vivas pessoas felizes. A autora fala também da morte dessas pessoas e foi aí que ative meus pensamentos. Afinal, como parece injusto quando “algumas” pessoas morrem não é verdade? Surge uma raiva, um rancor, algo como inquietação e discordância dessa opinião da qual não somos consultados. Não interessa se éramos pessoas realmente próximas: a morte chega e pronto. Depois dela restam riscos de uma memória por vezes fantasiosas, resta a saudade, a amargura e a nostalgia de “ter ficado”.
Talvez por isso a autora fale tanto em silêncio. Talvez, então, a morte não seja nada mais que um silêncio prolongado. Desses que tememos alcançar e que só sabe quem viveu. Desses onde só “a dor faz parte” e onde os olhos não alcançam. Um silêncio que só quem fica para saber.


“Entre o sim e o não é só um sopro, entre o bom e o mau apenas um pensamento, entre a vida e a morte só um leve sacudir de panos – e a poeira do tempo, com todo o tempo que eu perdi, tudo recobre, tudo apaga, tudo torna tão simples e tão indiferente”. 
Boa Leitura!

O diamante do tamanho do Ritz


Dizem que a primeira impressão é a que fica.... Bom, se assim for tenho mais um vício de leitura: o irlandês Francis Scott Fitzgerald. Os motivos que me levam a esta dedução (ou conclusão) não são poucos: a indicação “conceituada” de quem recebi o livro, a bela maneira como escreve o autor e, simplesmente, por ter um brilho idêntico ao de diamantes (mesmo sem nunca ter visto o mesmo). Por falar em diamantes, até aonde vai a tua ambição? O que faria para proteger um tesouro, o teu tesouro, desses tipo filme de navio pirata? Nós que trabalhamos todos os dias para sustentar necessidades básicas humanas (e algumas coisinhas a mais), para manter aquilo que podemos chamar de “inspiração” ou “amor à profissão” sabemos bem o que é buscar e proteger um tesouro...
Há quem diga que uma pessoa sem ambição não vai a lugar algum. E, como todo mundo vai a algum lugar um dia, poderíamos dizer que essas ambições fazem parte da racionalidade humana geradas por algo como a “loucura química” de que somos acometidos, pela embriaguez divina, e pelo tão natural e simples egoísmo. Diariamente mantemos uma rotina abarrotada de tarefas, por vezes, tempestuosa e árdua. Por isso, o autor sugere em determinado trecho do livro “O diamante do tamanho do Ritz, e outros contos”: “foi um grande pecado a invenção da consciência” e complementa dizendo: “o sono é o refúgio da loucura e insensatez”. Talvez, o que o autor quer nos dizer é que acordados, sonhamos de acordo com nossas possibilidades e limitações e dormindo extrapolamos. Já dizem os psicólogos que o sonho é a manifestação do inconsciente, daquilo que, conscientemente, reprimimos. Confuso? Talvez. Afinal, a vida o é.
Porém, enquanto não temos diamante, sugere Francis Scott Fitzgerald, nos alimentamos de uma embriaguez divina acessível a todos: o amor e a desilusão. Talvez, trabalhemos em intensa proteção do nosso tesouro diariamente, mesmo sem percebê-lo. Porque afinal o que é o nosso tesouro? Falamos apenas de dinheiro ou entram aí ideais, planos, memórias e recordações? É, quem sabe, guardemos nós também um tesouro ao qual protegemos diariamente.
É assim, como se estivesse protegendo um tesouro, que o autor nos apresenta três contos. Em cada um deles uma história distinta e instigante. Dessas que nos fazem dormir tarde e acordar cedo para terminá-las de uma vez só. Dessas que nos fazem sentir a vontade de comprar (ou ler) todos os livros do autor. É, talvez seja essa a minha ambição. E a tua, conseguiste descobrir ou irá esperá-la no próximo sonho?
Boa Leitura!