11.18.2009

O menino de pijama listrado


Procurei por mais de duas horas encontrar a palavra certa para começar este pequeno texto. Esta é a quarta vez que o inicio sem saber se, realmente, chegará a ter um fim. Um fim que valha a pena, que cause algum impacto, tal como causou o livro que me trouxe mais uma vez à frente do computador. Olho para a tela branca e sinto como se faltasse algo; como um vazio, desses sentido quando se perde alguém especial. Não consigo entender exatamente o que ocorre, mas o que é certo é que, de alguma forma, tudo parece ter sido causado pela narrativa de John Boyne. Mais do que um autor de bestseller, Boyne resgatou uma história que muitos ainda preferem esquecer ou, no máximo, comentar superficialmente.
O tempo apresentado no livro “O menino de pijama listrado” é curto, algo como dois a quatro anos. É uma obra que traz como protagonista uma família, uma cerca e um menino. Num primeiro momento parece uma construção simples e, realmente, é. É o tipo de livro que em quatro horas de dedicação você terá virado a última página. No entanto, nem por isso deixa de provocar (como diria Roberto Jefferson) “os instintos mais primitivos” daqueles que acompanham a história.
Em cada lado da cerca um menino de nove anos, nascido no dia 15 de abril de 1934. Mas as coincidências param por aí, pois também em cada lado da cerca há um mundo. Num, o tédio é capaz de provocar a loucura; no outro existe o frio, a chuva, a fome, a violência e a abnegação de qualquer resquício daquilo que alguns chamam de humanidade.
Nos dois lados pessoas com histórias distintas. Pessoas que apoiam o governo de maneira patriota e pessoas sem governo; pessoas que se rebelam pela justiça e pessoas que não sabem o que viver sem ela; pessoas que vestem suas melhores roupas à espera do jantar e pessoas que vestem listras e saem marchar, sem saber até aonde ir.
É simplesmente disso que fala o livro: do absurdo que a ignorância pode causar; da crueldade; mentira; covardia e orgulho que fecham os olhos de uns e os tornam superiores. Os tornam capazes de ignorar que há vida no outro lado da cerca; que há diferença entre as pessoas; que há um pouquinho de cada um de nós também do outro lado.
O comandante, a mando do Fúria, não percebeu isso a tempo. Quando se deu conta havia exterminado o pouco dele que ainda não conhecia todas as regras. O livro de Boyne faz, então, além de uma retrospectiva histórica, um alerta para as cercas que ajudamos a cravar todos os dias e que, por sermos tolos, achamos estar certa. E afinal quem define de que lado da cerca você estará?
Boa leitura!

11.13.2009

Comer, rezar e amar


Ei! Você tem um tempinho sobrando?! Então me responda: quantas pessoas já tentaram simplificar em conceitos e suposições o que é a felicidade? E quantas delas conseguiram, na metade do tempo, apresentar motivos para que o contrário acontecesse? Falar, escrever, dialogar sobre coisas que nos deixam tristes é, obviamente, mais fácil que arriscar um conceito fajuto sobre felicidade. E não pensem que apresentamos com esta resenha um livro que ouse tanto. Diferente disso, a dica é de um diário.
O diário de uma jornalista e escritora chamada Elizabeth Gilbert (“Comer, rezar e amar”). Uma mulher que resolve viajar por três países (Itália, Índia e Indonésia), no período de quatro meses, após um traumático divórcio. Para a viagem, conseguiu o apoio financeiro da revista em que trabalhava nos Estados Unidos (quem sabe um dia eu também escreva um diário assim...). Em cada uma dessas cidades, a autora buscou encontrar, respectivamente, prazer, devoção e equilíbrio e, então, alcançar a tal da felicidade.
Na Itália comeu, bebeu, apreciou ambientes românticos (mesmo sozinha) e descobriu que há “beleza em não fazer nada”. Percebeu, também, que a depressão e a solidão caminhavam lado a lado com as expectativas que ela alimentava ao tentar se livrar delas. Na Índia enfrentou uma das maiores dificuldades: silenciar. E no silêncio lutou contra memórias, sentimentos e provações. Descobriu maneiras para enfrentar o medo e a ansiedade e conseguiu. Só depois de muito limpar o chão, foi à Indonésia encontrar um velho conhecido. Encontrou-o e também algo a mais.
No livro é evidente (como pode-se imaginar) que há um forte choque cultural. E não, necessariamente, da autora, mas daquele que com ela viaja. A cada cidade, novas concepções; novos deleites; e aprendizagens. Não apenas da língua praticada, mas de como cada povo encontra a sua realização. E ao apresentar essa nova realidade, a obra te transporta para estes distintos ambientes. E faz isso mesmo que de forma vagarosa e sutil. Quando você menos espera sente-se 10 quilos mais gorda de tanta pizza; meditando no ashram e aceitando a quietude trazida pela solidão.
E após tudo isso; após um ano de caminhada; de caixas levantadas; de buscas incessantes, Liz (depois de 300 páginas já podemos chamá-la assim, certo?!) descobre a tão ansiada felicidade. Então, aí nossa viajante percebeu que para tê-la por perto basta um pouquinho de esforço pessoal, pois ela está sempre por perto. Como um controle remoto que precisamos acionar o botão. Com a TV fazemos isso numa freqüência maior, mas e no dia a dia? A velocidade do tempo aumenta a cada ato insano de tentar prolongá-lo. Mas, no fim das contas, tudo um dia acaba e ser feliz (para aqueles que conseguirem) é a única dica. A medida pra isso? Não, não está no livro. Nem em qualquer outro lugar a não ser em nós mesmos.

Boa leitura!