2.23.2010

Eu que amo tanto


O que não se faz por amor? O que, em hipótese alguma, não se faz pela pessoa amada?
O amor, enredo fácil de qualquer peça de teatro, filme ou novela, é nada menos que a essência e a perdição. Para alguns, isso deverá parecer exagero. E estes alguns, não tenham dúvidas, se chamam “eles”. E sabe porquê?! Porque à mulher foi concebida a tarefa de amar demais. A elas foi designado que amar era permitido, que não carecia de vergonha, nem muito tato; que bastava se entregar e todo o resto se transformaria exatamente como havia sido planejado. Só para elas o amor é o início e o fim; salvação e “desgraça”. Elas que, como disse Marília Gabriela, tem a vocação de amar demais. E a jornalista e escritora não falava isso por falar, tal como fazemos às vezes. Ela falou porque assim contaram a ela. Assim foi que as treze mulheres, integrantes do MADA*, relataram suas vidas para que fosse composto o livro “Eu que amo tanto”.
O livro é, nada menos, que uma junção de depoimentos de mulheres que amam desmedidamente. Mulheres que justificam tudo pelo amor.
O amor alcóolotra, cimento e possessivo; o amor louco, doentio e engessado; o amor que se anula. Amor de colégio, de pai e mãe, de namoricos, de amigos, de bichos, de saudade, de sexo e de perversão. Amor caliente, quente e necessário. Amor que fica, adormece e explode. Que desequilibra, distorce e divorcia. Amor da alegria incontida, do sorriso, da briga e do ódio. Amor que traz a paz, a mentira e o vício. Amor que, acima de qualquer coisa, é indomável e que, por isso mesmo, enlouquece e assusta essas mulheres. Porque elas, elas tem o amor como uma entrega total, irrefutável e completamente intensa. Como cita a autora, “são pessoas como eu, como você, como todo mundo, milhares, centenas de mulheres, com quem devemos cruzar em nosso cotidiano”. Mulheres que se doam a cada amor. A cada resquício de paixão efêmera, doutrinal ou de uma vida toda. Não importa!
Para elas só o amor é suficiente. É o dicionário de palavra única. Talvez por isso encante tanto. Afinal, não é sempre que se vê tal palavra flutuando solta por aí. Nem todos querem ver, sentir e se deixar levar por essa leveza. Para estes, elas dão a lição: o amor é matéria-prima escassa. Escassa!



*MADA: grupo de apoio a mulheres que amam demais


Boa Leitura!

2.17.2010

Qual é a tua obra?

traz a reflexão sobre gestão, liderança e ética em suas diversas esferas. Desde a busca de sentido no trabalho que realizamos; a idéia de trabalho como algo que nos faz bem e nos satisfaça; o reconhecimento necessário; a humildade para aprender que nunca sabemos o suficiente sobre qualquer coisa; o lado bom de perceber que não sabemos tudo; a importância da educação continuada para o crescimento da empresa e do profissional; o equilíbrio entre satisfazer as necessidades e desenvolver um trabalho que se goste; a importância de gostar do que se faz mesmo que isso não tenha sido idealizado; a diferença entre cansaço e estresse; medos e inseguranças; dicas como lidar com as mudanças; flexibilidade e rigidez na tomada de decisão; a realidade do trabalho hoje; a correria; as cobranças; e as necessidades (essenciais e fundamentais) de cada um.
Mesmo em forma de indagação, Cortella nos dá a dica de qual a resposta certa para a pergunta: “a sua obra é muito mais ampla do que qualquer que seja a atividade que você realiza”. Assim, a sua obra, a minha obra e a de tantos outros constitui nada menos do que aquilo que almejamos deixar como marca, registro e resultado. Então, se você, além de tentar entender os tópicos apresentados, desejar ir a fundo e torná-los aplicáveis no seu dia a dia, vale a pena buscar o livro e dedicar as três horas de leitura que ele exige.

O ser humano, dentre outras peculiaridades, busca incessantemente se satisfazer. Essa busca varia de acordo com o período vivido pelo sujeito. Na infância, por exemplo, nossas necessidades e realizações são diferentes da adolescência, que serão ainda mais distintas da fase adulta e da velhice. Por isso, em cada nova etapa enfrentamos algumas dificuldades em conquistá-la e até mesmo saber o que poderá nos levar até ela. Essa dificuldade acontece também em relação com a busca da realização profissional.
Nesse terreno, o caminho é ainda mais tortuoso. Isso porque independe apenas de você e das tuas experiências. A partir do momento em que o sujeito entra no mercado de trabalho, precisa dançar conforme a música sem esquecer, claro, seus princípios éticos, valores, necessidades e objetivos. Tratar desse tema requer, então, conhecimento de causa e, por isso, nesta semana, o Guia do Leitor apresenta “Qual é a tua obra”, de Mario Sergio Cortella.
O livro além de apresentar dicas e performances empresariais na relação empresa/empregado suscita a inquietação daquilo que fazemos, produzimos, queremos fazer e do que desejamos como resultado.
Qual é a tua obra
Boa leitura!

2.04.2010

Estorvo


Há dias em que nosso cérebro parece se negar a fazer mais do que as habituais responsabilidades exigem. Para ele, basta cumprir com o que lhe é de costume e todo o resto estará concluído. Mas, há também, aqueles dias em que a mente não pára. Que cada palavra é desculpa para uma ideia estapafúrdia; em que toda a imagem serve como trampolim para criar mil novas teorias. São o que chamamos de “dias imaginativos”.
Para alguns não são tão frequentes como deveriam; outros gostariam de poder moderá-los. Mas estas são coisas que não se controlam; que fogem ao nosso poder decisório, tal como os acontecimentos que se desenrolam de maneira descontrolada quando fazemos algo que não deveria ser feito. Imaginando que isso possa ter parecido um pouco confuso e que logo irá me fugir ao controle, cito um exemplo, como aquele dia em que você, cuidadosamente, se prepara para uma conversa com o seu amado, organiza as falas iniciais, o momento em que o diálogo deve mudar de rumo até que chegue ao ponto crucial (de que você está com a razão, claro!). No entanto, entretida em decorar as falas você se esquece de pensar num plano B e no momento do discurso toca o telefone; ele atende e quando desliga muda totalmente o caminho da conversa. Sem querer, vocês dão outro ritmo ao diálogo e aí, ou se acertam, sem você ter conseguido a palavra final da razão; ou brigam de uma maneira quase irreversível.
Sem grandes desafios, assim pode ser imaginada uma ação que acontece independente de como a tenhamos pensado. A porta batida sem intenção; o telefone desligado no momento errado; a campainha acionada e logo abandonada.
Dessa forma, também é Estorvo: uma ideia que emerge entre um pensamento e outro; entre o sonho, a loucura e a vida real. Estorvo é a imaginação guardada a sete chaves; o devaneio e a embriaguez inconstantes; é o trabalho não concluído devido à distração, mas é também a própria distração; é aquilo que atrapalha; que não deixa as coisas acontecerem e que, por isso mesmo, acaba por garantir o seu reconhecimento.
Estorvo, primeiro romance de Chico Buarque é, então, simples; é a história; é o pensamento que não merece vir à tona; é o desejo; a ânsia, repulsa, medo, covardia e é, por fim, aquilo que não se descreve em poucas palavras, mas que, de alguma forma, fazemos uso e nos apropriamos.


Boa leitura!

Lua Nova


Após cada entardecer, iniciamos uma transição. Deixamos a claridade da luz para nos perder no breu da noite. Noites que podem ser longas, frias, cheias, curtas ou quentes. Nestas mesmas noites é possível sentir uma companhia que, mesmo distante, assiste a tudo o que fazemos. A lua, dividida em quatro fases, mantém sua singularidade e originalidade justamente por nunca ser a mesma. De período em período é outra. Na lua nova, por exemplo, a sua face visível não recebe a luz do sol; isso acontece porque os dois astros estão na mesma direção. Nessa fase, ela está no céu durante o dia, nascendo e se pondo aproximadamente junto com o sol.
Os dois desfrutam, assim, do mesmo cenário e das mesmas situações que nós, aqui em baixo, desenvolvemos. Trabalho, conversas, ações, pensamentos e reações, tudo sob a visão cuidadosa dos dois astros. São promessas não cumpridas; sorrisos; palavras jogadas ao acaso; atitudes egoístas; sentimentos não vividos; intenções; olhares; planos de ficar ao lado de quem se ama, como Bella Swan queria; desejos como o de Edward Cullen de preservar um amor mesmo que para isso precisasse fazer de conta que ele nunca existiu.
(Algo te pareceu familiar?)
Na sequência à série mais vendida em 2009, estes dois protagonistas colocam à prova um sentimento puro e destemido. Em Lua Nova, de Stephenie Meyer, o romance colegial (pelo menos para Bella) desafia a segurança e a sobriedade da pequena cidade de Forks. E não poderia ser diferente, pois, como cita Bella “depois que você gosta de uma pessoa, é impossível ser lógica com relação a ela” e, talvez por isso, sem qualquer resquício de coerência passamos a acompanhar aquele amor tão difícil de resistir.
Um amor imprevisível, desses que dificilmente voltaremos a ver senão em ocasiões assim: folheando livros. Até porque, hoje, por mais que tentemos, o frenesi do dia a dia toma conta do tempo que antes dedicávamos a sonhar e imaginar finais felizes. Não temos tempo para brincadeiras. É o resultado no trabalho; a expectativa de um novo projeto; cuidados com a família e aquilo tudo que em alguns momentos gostaríamos de esquecer. Mas, mesmo com todas as adversidades, todo o ceticismo e incredulidade, Lua Nova consegue nos fazer lembrar que histórias assim ainda acontecem (talvez sem vampiros ou lobisomens, mas semelhantes em sentimentos de dedicação e amor); nos faz perceber que talvez elas estejam bem próximas. Se não estiverem, cuidado: a felicidade também pode não estar. E aí de que terá adiantado todo o discurso, toda a energia e argumentos? Se eles não forem usados diariamente serão apenas mais uma das tantas “coisas” dispensáveis, tal como atitudes tolas que temos de, por exemplo, não perceber que a lua mudou de fase.
Boa leitura!