3.30.2010

Alice no país das Maravilhas!


Disse-me um amigo: “tenho sonhado com cada coisa que tu não acredita”; eu, curiosa, pergunto: “com o que?”. Ele responde: “não sei ao certo” e prossegue a narrativa de maneira insegura ao proferir as palavras que dão cor e vida ao sonho já entrando em esquecimento.
Meu amigo não é o único que, ao contar um sonho, percebe que não lembra de tudo, às vezes de nada. Há quem diga que isso acontece porque nosso inconsciente bloqueia aquilo que, pelo sim e pelo não, é melhor que não “saibamos”. Sendo assim, lembramos apenas o que não nos afeta (intimamente, prefiro acreditar apenas que somos “fracos de memória”).
Teorias à parte, sonhos são sempre instigantes, para não dizer, absurdos. Juntam pessoas, lugares, reações que sequer teríamos imaginado de olhos abertos. Alice que o diga. De um momento para o outro ela saiu do jardim, ao lado da irmã, e começou cair. Caiu até que encontrou o fundo. Calma, Alice não se machucou.
Lá no fundo do poço, ao contrário do que costumamos pensar quando falamos em “fundo do poço”, Alice se maravilhou. Cresceu, chorou, conheceu figuras estranhas, diminuiu e voltou a chorar. Tudo assim, conjugado no passado, porque hoje Alice está acordada. Se ainda sonha, não sabemos, mas o fato é que, depois que caiu naquele poço fundo, descobriu um mundo de magia. Descobriu que para imaginação não há limites. Tanto que, quando tudo parecia “normal” aí é que Alice se preocupava. “Estava tão acostumada a esperar apenas cosias extraordinárias que lhe parecia bastante monótono e estúpido que a vida continuasse no ritmo normal”.
No entanto, ela é apenas uma criança. Alice sonha e imagina, mas ainda assim (ou, por isso mesmo) é uma criança. E, quando ela refuta a imaginação, acorda. Quando ela se percebe maior, desperta do sonho e corre para casa. Assim é Alice no País das Maravilhas.


Boa leitura e até a próxima semana!

Anjo Negro


A diversidade é, sem dúvida, o que nos leva a crescer. Através dela nos deparamos com aquilo que tem caráter de novo, surpreendente, inimaginado e desconhecido. Através desse contato, nos defrontamos com a possibilidade de releituras e novas formas de aprendizado. Quando lemos um livro que “nos pega de jeito”, por exemplo, a vontade que dá é ler apenas livros que sejam do mesmo autor para, assim, levar adiante o mesmo entusiasmo. No entanto, às vezes é preciso de risco. Fazer uma aposta e, de repente, ter uma baita de uma surpresa.
Nesta semana apostei. Mas não foi nenhuma aposta de grande impacto, pois o nome em questão tem todo o mérito e pompas a seu favor. No entanto, ainda assim, escolhi o livro sem saber como seria a narrativa, o desenrolar da história e etc, etc. e, mais uma vez, me dei bem: “Anjo negro”, de Nelson Rodrigues, entrou, então, para a lista de “autores a consumir”.
O livro que, na verdade é a apresentação de uma peça, foi escrito em 1946, passou pela censura e, em 1948, foi à cena. Na trama, encanto e repúdia dividem espaço com a história de Ismael e Virgínia e, por isso, muitos a reconhecem pelas denúncias de obscenidade e desrespeito à moral. Isso porque o autor aborda temas de difícil aceitação como o incesto, a mistura entre ódio e amor, a repulsa do sexo que disfarça a obsessiva atração e, principalmente, o racismo.
É em torno desta questão que a maioria das cenas se desenrolam: é o “preto racista” que viola a “branca pura” na procura pela sua própria pureza; e o racismo da branca que deseja e odeia o ardor que sente pelo preto que a encanta e prende. O desejo carnal e a loucura do enclausuramento fazem dela (Virgínia) uma pessoa capaz de aceitar a maneira como foi violada e a violência com que sobrevive. Ele (Ismael) despreza a sua pele e passa a encontrar outro homem em seu corpo.
Não é a toa que Nelson Rodrigues dá, em sua primeira fala, a ordem que “a ação se passa em qualquer tempo, em qualquer lugar”. O racismo de que ele fala na década de 40 é a exacerbação do racismo que hoje fingimos não perceber. O sexo explícito numa época em que levava somente ao pecado é o desejo ardente transmitido em rede nacional, no horário nobre. É um emaranhado de loucura, possessividade, amor, devoção, desejo e sadismo, tudo acontecendo num espaço simbólico. Espaço simbólico de um Brasil que, muitas vezes, fingimos esquecer ou negamos.


Boa leitura e até a próxima semana!

3.17.2010

Sujeito, o lado oculto do receptor


Em qualquer que seja o processo, existem meios e formas para que as coisas aconteçam. Num processo cirúrgico, por exemplo, são várias as etapas até que ele se complete; e para o seu bom desempenho é preciso que todas elas sejam executadas e respeitadas em seus devidos momentos. Assim também é com os processos comunicacionais.
Mas que processos são esses?
Processos comunicacionais são as etapas que conduzem à comunicação de fato. Nele existe o emissor (que produz a mensagem), a mensagem (informação jornalística, campanhas publicitárias) e o receptor (que recebe a mensagem; também chamado de telespectador, leitor, internauta, ouvinte). No entanto, por tratar de algo subjetivo e relativo, como as condições que levam o receptor agir de tal forma ou do emissor a produzir este e não aquele material, esse é um processo muito complexo. Por isso, Mauro Wilton de Souza organizou o livro: “Sujeito, o lado oculto do receptor”, com diversos textos de autores diferentes, a fim de analisar o papel do receptor.
Para esta análise, sugere-se que o papel de um e de outro seja entendido no processo como um todo. Por exemplo, o emissor produz a mensagem e transmite-a. Não faz isso, porém sem qualquer influência externa e, inclusive, pessoal. Nesta mensagem, além do profissionalismo, estarão presentes as suas experiências de vida, expectativas, intenções e interesses. Tudo isso também fará parte das características que constituem o outro lado: o receptor, aqui abordado como sujeito. Mas, e porque sujeito e não apenas receptor?
Receptor, recebe. Sujeito escolhe o que receber. Esta é a ideia que norteia o livro em questão. Mesmo considerando que o receptor escolha dentro daquilo que lhe é oferecido, ainda assim ele exerce sobre o emissor a força daquilo que deseja, do que gosta e de como quer receber. Este sujeito, oculto e ainda em processo de investigação, aponta o caminho que a mensagem deve seguir; e determina a mensagem. É o indivíduo com sua história, preferências, medos, cultura e hábitos.
Nesse processo, um complementa o outro; e um só existe em função do outro. Este receptor/sujeito sou eu, é você, somos todos nós. Pessoas diferentes que desenvolvem um tremendo papel: ajudar na construção da cidadania. Então, sempre que você estiver com o controle remoto na mão, lembre-se que a sua escolha e a sua preferência está impressa no botão que você apertar. Vale a pena, então, prestar atenção em qual será ele!
Boa leitura e até a próxima semana!

Eclipse


O ditado popular é claro: “gosto, cor e amor não se discute”. No máximo, é permitido discordar e, quanto isso, ninguém poderá fazer nada, justamente pelo fato de que cada um gosta de algo em específico. Sendo assim, o que é bom para um, pode não ser para o outro e no fim das contas: viva a diversidade! Por exemplo, há quem prefira os loiros, os morenos, os baixinhos, os altos, os magros ou os gordos; quem não dispensa dias de sol, chuva, ventosos ou frios; que preferem a claridade do dia ou a escuridão da noite; que gostam de barulho, movimento e agitação ou do silêncio. Por tudo isso, algumas pessoas parecem combinar mais com uma coisa do que com outra. Não Bella! Ela combina com os dois: frio e calor; dia e noite. Ela combina com Edward e também com Jacob. No entanto, combinar com momentos e pessoas tão opostas tem seus riscos; requer meticulosidade e muito, muito tato.
O terceiro livro da série Crepúsculo, de Stephenie Meyer, “Eclipse” fala disso. Do amor incontrolável que Bella sente por Edward; de como ela mudaria para ficar ao lado dele e sentir sua mão gelada; fala do carinho por Jacob; da tranquilidade, satisfação e do calor que a sua companhia proporciona; fala da dúvida; do medo; e da angústia em fazer uma escolha. Escolha que dever ser única. Dessas que definem para sempre o caminho a seguir. Bella tem duas opções. As duas levam ao amor incomum, insensato e irresistível.
Então, Bella passa a pesar o carinho, a atenção, a proteção e os planos que um dia fizera. Pensa no passado, no futuro e nas suas opções. Ela sabe exatamente o que quer, mas ainda assim analisa e pondera. Pois, sabe que a decisão não tem volta. E, afinal, quem não tomou uma decisão que é impossível voltar a trás? Isso faz parte de nossa vida: escolher, decidir e apontar o que queremos. Nem sempre é fácil e nem sempre é difícil. A certeza depende daquilo que sentimos dentro do peito. E, assim como Bella, no fim é sempre esse sentimento que nos faz escolher. É essa coisa (que alguns chamam de voz interior) que nos leva a saber a hora certa de dizer “eu te amo”; “eu aceito”; “não dá mais”; e “até algum dia”.
Eclipse é isso. É o amor estonteante; é a voz interior; é a escolha; é o caminho; é a razão do sentimento. É a escuridão total e é, principalmente, a esperança de logo ver o amanhecer.
Boa leitura e até a próxima semana!