7.13.2010

Capitães da areia

Há dias em que o mais irredutível dos homens pode render-se a um encantamento. Esquece-se, ele, do sofrimento, da falta de oportunidades e do preconceito que sofre. Um dia me disse um amigo: “Viver na diferença é ir contra a maré todos os dias. A cada amanhecer é um novo embate”. Meu amigo, na condição de diferente por ser homossexual, teve muitas portas fechadas, no entanto precisou encontrar novas janelas, buracos, qualquer forma para que visse a claridade do sol. “Não é fácil”, reforça ele.
O preconceito de que sofre este amigo é semelhante ao de muitas outras pessoas que, por algum motivo, são colocadas como “diferentes” e, por isso, taxadas com as mais inadmissíveis barbaridades. São pessoas como os “Capitães da Areia”, grupo de meninos que “infestavam” Bahia de 1937 e que tem no cais o seu quartel general.
A obra de Jorge Amado narra a história de meninos que vivem nas ruas, sem família, casa ou qualquer conforto. Meninos que, pela necessidade, descobriram o valor da amizade e da parceria. Com o grupo, organizavam furtos e destes tiravam o sustento e algum prazer.
A narrativa se desenrola no Trapiche (hoje Solar do Unhão e o Museu de Arte Moderna); no Terreiro de Jesus (na época era lugar de destaque comercial de Salvador); onde os meninos conseguiam dinheiro e comida devido ao grande movimento de pessoas; e no Corredor da Vitória, área nobre de Salvador, também conhecida como “cidade alta”.
Mas não é apenas destes meninos que vemos falar na história contada por Jorge Amado. Ali conhecemos crianças. Destas que nunca brincaram num carrossel, que desconhecem o sentido da palavra carinho, que não fazem planos para o futuro. Ao se deitar, os Capitães da Areia não sonham; apenas sofrem com antigas lembranças das surras, esporos e covardia de que eram vítimas ao serem conduzidas ao reformatório.
Ao ler essa história é simplesmente impossível não sentir medo e angústia. É impossível não ter esperança de que, como nos filmes, no fim tudo pode dar certo. Jorge Amado é mais realista. Tanto, que ainda hoje a sua história não precisa muito para ter exemplos cotidianos.
Os “Capitães” às vezes cansavam da liberdade da rua; queriam mais. Procuravam carinho, atenção, “qualquer coisa fora daquela vida”. No entanto, poucos percebiam que, “vestidos de farrapos, sujos, semiesfomeados, agressivos, soltando palavrões e fumando pontas de cigarro, eram, em verdade, os donos da cidade, os que a conheciam totalmente, os que totalmente a amavam, os seus poetas”. Poetas que morreram de fome, de “bexiga” e, até, de saudade do que não tinham.

Boa leitura e até a próxima semana!

7.12.2010

O Velho e o Mar

Dizem, por aí, que cada sujeito é livre e que, sendo livre, decide sozinho os rumos que deseja dar à sua vida. Se acredito nisso não importa. O que vale mesmo é pensarmos sobre até que ponto somos capazes de estabelecer nossos próprios desafios, e, é claro, vencê-los. Até que ponto podemos arriscar a nossa vida para conseguirmos o tão obstinado reconhecimento, admiração e, quiçá, alguns elogios? E, principalmente, quanto isso nos faz feliz?
A busca pelo sucesso (aqui entendido como reconhecimento) é constante e incansavelmente persistente. Seu Santiago que o diga.
O velho pescador, centro da história de Ernest Hemingway, não é como possa parecer, tão obstinado pelo sucesso. Pelo menos não o sucesso reconhecido externamente, com aplausos e plumas. Santiago quer mesmo é saber que ainda é capaz de pescar os seus peixes, trabalhar sozinho e esquecer alguns fardos trazidos pela idade.
Após 84 dias sem angariar nenhum pequeno animal que seja, Santiago deposita sua esperança e vai à luta. Não, Santiago não é brasileiro. Mas, até que parece! É daqueles que não desiste, que, com sabedoria popular, sonha e é feliz. Ele sabe que não é fácil vencer uma maré de azar, mas também sabe até aonde vai a própria experiência.
É assim que Santiago, protagonista do livro “O Velho e o Mar”, escrito em 1952, constrói a sua busca. E, além de nomes de peixes e manobras de pescarias, com a obra aprendemos o que de mais importante existe para aqueles que sonham e que costumam correr atrás de seus objetivos: a esperança.
Não apenas ela, mas a esperança que carrega junto a garra e a vontade de fazer diferente. Se você é um desses, a dica foi feita. Procure e descubra o que mais Santiago pode nos ensinar. A sorte pode vir na próxima rajada de vento. É preciso estar atento às mudanças!

Boa leitura e até a próxima semana!