10.22.2008

Ninguém escreve ao coronel


Por quanto tempo és capaz de esperar?
Qualquer tipo de espera, seja em consultório, terminal rodoviário, sofá de casa, fila de banco, carteira escolar, à frente de um computador, demora! Quando esperamos por coisas que sequer sabemos se virão, pior ainda. Quer dizer, mais agoniante ainda. Às vezes esperamos por um telefonema. Outras esperamos aquele amor bonito, perfeito, sem brigas... Esperamos o emprego dos sonhos, o filho quietinho, o salário aumentar, mas também esperamos por algo que agora não me vem o nome. Aquilo que nos faz levantar todos os dias, olhar para frente e encarar tudo com o mesmo jeito esperançoso e confiante de sempre (exceto os dias em que o “pé esquerdo” prevalece). Sem saber se realmente vamos ter algo de diferente, esperamos. Esperamos por aquilo que nem sabemos se existe.
No meio de tanta espera surgem alguns acontecimentos inesperados. Estes, por vezes, nos surpreendem de maneira positiva (a amizade feita no ônibus e que dura muito mais que uma viagem, o bate-papo que vira desabafo, o email desconhecido falando sobre algum trabalho que nem lembramos mais ter desenvolvido...). Outros, ah! Esses são melhor nem lembrar.
Talvez, em um curto raciocínio, possamos chegar à ínfima conclusão de que é na espera que vivemos, mesmo sabendo que “a única coisa que chega é a morte”. É o coronel foi duro ao nos falar da morte. Porém, mais dura ainda é a espera dele, do coronel de que nos conta Gabriel García Márquez, em “Ninguém escreve ao coronel” (no título original: “Coronel no tiene quien le escriba”). Todas as sextas-feiras ele vai até o porto e espera. Passam-se décadas e ninguém escreve ao coronel.
O que o coronel espera que lhe escrevam o autor não descreve em apenas uma linha. Isso nos leva a pensar que talvez ele espere apenas por uma boa notícia como a aprovação de sua aposentadoria, um novo lance de valor para o seu galo, o resultado de uma loteria que ele nem sequer apostou, ou simplesmente ele espere que lhe escrevam. Pouco? É, pode ser que pareça pouco diante da grande miséria em que vive o coronel. Mas talvez tenhamos que sentir esta pobreza para pensar no que nós esperamos que nos escrevam. Ou ainda (e isso é só um devaneio) talvez seja simplesmente para nos fazer pensar em como esperamos. Incrédulos, apáticos, mesquinhos, covardes, ou como o coronel: esperançosos e confiantes. Talvez também eu tenha esperado muito para dizer tão pouco ou, quem sabe, dizer quase nada. Mas enfim, o que ficou foi o pensamento de que é preciso esperar com fervor, determinação e, é claro, sem pressa. Talvez, a espera seja mais profícua.
Boa Leitura!

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