4.01.2009

Tristessa


Às vezes, quando escolhemos o livro que irá nos acompanhar por algumas horas, o definimos mediante uma intenção e não são poucos os momentos em que nos surpreendemos e percebemos que, meu deus, como não tínhamos percebido isso antes?! Esse é um dos encantos da leitura: te colocar de frente a uma realidade que, no máximo, você poderá imaginar. Realidade que irá ser elaborada de acordo com o espírito de cada um. É por isso que, quando recebemos uma dica sobre determinada obra, vale a pena conferir, sempre! Se alguém já leu e te falou “putz, o livro é bom pra caramba”, pega emprestado e mãos à obra.
Mas, como opiniões são muito particulares, no instante em que você abri-lo ele poderá ser outro, muito diferente do que você esperava. Esplêndido! Surpresas são a base de uma boa narrativa. E, então, vamos nós à busca de mais um desconhecido. Todo esse blá blá blá para comentar sobre uma das últimas dicas recebidas: Jack Kerouac, escritor franco-americano, autor de, entre outras obras, “Tristessa” (1960).
No romance, tudo o que há é desolação e compaixão pela própria compaixão sentida pelos destinos tristes tomados e, claro, a compaixão pelo sofrimento humano. Esse sofrimento de que nos fala o autor permeia diferentes áreas da nossa vida. Sofrimento inmaterial e sofrimento de pele (corpo), tanto faz, qualquer um deles machuca e transforma homens em seres humanos capazes de complacência e devoção. Indivíduos que sofrem e que nos fazem sofrer com eles. Sofremos porque o autor nos fala, sem ponderação, que somos nascidos para morrer.
Como uma sentença, algo inevitável e irrefutável, essa afirmação se coloca como uma realidade que no nosso corre-corre nem lembramos; nos distraímos; nos iludimos com tantas outras cosias que esquecemos a finalidade pela qual nascemos. “Todos nascidos para morrer”. A declaração de Kerouac nos traz de volta à realidade e nos coloca em nosso devido lugar: bicho que nasce para morrer. Nada de sonhos, nem amores, planos ou desejos. Nada! Nascidos para morrer e só! O que cada um faz até que a morte chega depende em que esses indivíduos são viciados.
Há aqueles que são ávidos por carinho, companhia, atenção, outros em morfina e drogas que lhe fazem esquecer a dor. A dor de cada dia, que vai e volta e permanece. Dor que surge também por falta de coragem; que não é só física, mas latente e cruel. A dor da indecisão, do medo e da vergonha. Dores que nos transformam em pessoas tristes, tal como “Tristessa”, a protagonista do romance. Para aqueles que machucam a perna o recomendado é repouso, mas para aqueles que ferem a alma, muita morfina, por favor.

Boa Leitura!

Um comentário:

Anônimo disse...

Ótimo comentário. O que Kerouac busca, sempre, em seus livros é a questão do existencialismo; suas obras nos fazem refletir sobre a importância do "Agora", a intensidade e os "autos e baixos" de um cotidiano decadente, que se encaixa perfeitamente no cotidiano de alguns jovens nos dias de hoje;
Também mostra-nos a busca desesperada pelo alívio das dores emocionais e físicas, que no caso de Tristessa é a morfina, e para o próprio Kerouac, o álcool. Claro que nem sempre, certas soluções são adequadas, cada qual que encontre seu meio, ou simplesmente que vá levando...