12.17.2009

O Caçador de Pipas

Incrível como às vezes não gostaríamos de ser quem somos. Preferíamos fazer de conta que não foi nossa aquela ideia estapafúrdia; esquecer a ligação no meio da madrugada; ignorar aquela mentirinha tola que largamos sabe-se lá o porque; esquecer que somos preconceituosos, mesquinhos, fúteis e incontroláveis.
Mas, de repente, numa explosão de carência achamos que somos (antes de tudo) sempre os prejudicados. Então, adotamos aquela cara de coitado e esperamos que alguém perceba como somos bons, puritanos e frágeis. Se ainda assim, nada disso funcionar (arg!), nos detestamos ainda mais. E, aí bate uma sensação de remorso, uma angústia vinda não sei da onde e então temos duas alternativas: correr atrás e tentar recuperar o estrago feito ou deixar como está.
Exageros à parte, algumas dessas atitudes não fazem nem “cócegas” no andamento rotineiro das nossas atividades e intenções; outras, no entanto, designam o curso de um destino, tal como aconteceu com Hassan. Ele sabia que era servo e que servo seria. Respeitava e amava seu amigo e também patrão, Amir. Amir também gostava de Hassan e assim se construiu a história destes dois meninos que cresceram juntos, na mesma casa, com vidas muito diferentes.
Hassan e Amir são os protagonistas do romance de Khaled Hosseini, O caçador de pipas. Best seller em 2008, o livro apresenta o Afeganistão da década de 70 através da história de Amir, rico e “bem-nascido”, sempre em busca da aprovação do pai; e Hassan, de família humilde, que não sabia ler, nem escrever, mas que era conhecido por sua coragem e bondade. Bondade essa que definiria os acontecimentos do inverno de 1975, naquele que teria tudo para ser o mais inesquecível dos campeonatos de pipas. Amir precisava ganhá-lo para atrair a admiração do pai e Hassan, como sempre, fiel e atencioso, o apoiaria nesta conquista.
Depois de horas encarando o céu azul, Amir derrubou a última pipa. Mas fez mais, derrubou também a oportunidade de demonstrar a mesma fidelidade de Hassan; jogou ao chão a chance de provar que, sim, tinha coragem o suficiente para defender o amigo e enfrentar o que disso resultasse.
Amir não fez nada disso. Em troca guardou por anos a pior das suas lembranças. Lembranças que, como falávamos acima, o faziam sentir vergonha e preferir que nada daquilo tivesse acontecido. Hassan sofreu calado. Os dois nunca mais viram o mesmo céu azul, nem as pipas, nem compartilharam histórias. Não como antes. Porque na vida é mais ou menos assim: cada gesto, ação e palavra (ou ausência dela) nos leva a uma direção. Nem sempre é possível voltar. Por isso, é preciso deixar falar o que sentimos. As escolhas passam a ser mais humanas e menos cruéis. Não é fácil. Mas, afinal, quem falou que seria?!


Boa leitura!

Xo mau humor


“Guria, não tenho tempo mais pra nada!”
Assim começa meu efêmero diálogo com uma amiga de longa data. As frases são curtas, em função da correria do trabalho e quando percebemos já nos demos tchau e então é meio dia.
Situações assim são cada vez mais frequentes e ainda assim parecemos não nos conformar com a “nova” realidade. Acordamos, atualizamos a lista de tarefas do dia e no final do mesmo ou a lista aumenta ou estanca. “Incrível como sempre fica mais coisa para o outro dia”, reclama um amigo exausto às 24h, despedindo-se para dormir. E isso tudo indiferente da profissão: é o pedreiro que trabalha enquanto tem resquício de sol; o professor que pega umas horinhas a mais para complementar a renda; o médico com a agenda cheia por dois meses à frente; o jornalista que se dedica a três diferentes trabalhos; o designer e publicitário resgatando algum vestígio de “criação” depois de 18 horas na frente do computador; e por aí vai. “É o fim do ano”, justifica um colega.
Talvez realmente seja. O que me parece, no mínimo, uma visão otimista do processo. Mas nada de desânimo, hein. É preciso encarar a realidade e tentar “curtir” esse frenesi de qualquer forma. Momentos de lazer são uma boa pedida. Por isso, na resenha da primeira semana do último mês do ano, apresentamos o livro de piadas “Xo mau humor”, de Torres Pereira. “Um show terapêutico sem contra-indicação médica”, como é descrito na capa.
O livro traz algumas piadas (“sem palavrões”, me garante o autor) sobre diversos temas; dos mais esdrúxulos aos mais rotineiros. Uma boa dica se você acha que anda trabalhando demais e merece um descanso. Mas se, de repente, chegar o mês de fevereiro e você ainda estiver com a expressão abatida, as olheiras fundas e corpo exausto, bom aí o melhor é dispensar aquele “freela” e partir para um plano “B”.


Boa Leitura!

12.02.2009

Crepúsculo

A ideia me veio sem precisar pensar muito: “me senti uma adolescente lendo esse livro”. Uma adolescente que se apaixona pelo mocinho, que adora a história de amor, aventura e, claro, um pouquinho de perigo.
Vivemos num frenesi de opiniões, trabalho e intensos debates políticos, éticos e morais em que uns gostam disso, outros daquilo e nós ali no meio; tentando pensar no que gostamos. Parei. Esqueci-me de toda a crítica e me dedique a voltar ao colégio. A ver o rapaz estranho, perfeitamente lindo; imensuravelmente distante para ser real. Fui à escola e confessionei com minhas novas amigas segredos que guardava apenas comigo. Na escola descobri que era por ele que acordava e por quem iria todos os próximos dias, ali, na mesma rotina cheia de verde musgo. Ele chegou mais perto. Mais e mais. De uma forma que não conseguia me afastar. Enchi-o de perguntas e passei então a admitir que o amava no amor mais ingênuo, infantil e risonho possível.
Antes que pensem ser este um (lamentável) depoimento, declaro: essa não sou eu, é a Bella. Isabella Swan que decide morar com seu pai numa cidade fria e sombria, chamada Forks, em Washington. Na frieza da pequena cidade é que Bella conhece Edward e, possivelmente, você já os conheça das salas de cinema.
A nova febre chamada “Crepúsculo” tem levado milhares de pessoas a livrarias e locadoras do mundo inteiro. O romance é, estranhamente, encantador. E talvez até me julguem por me dedicar e cair de joelhos, assim tão fácil, a “livros da moda”. A estes tento me defender, caso não consiga convencê-los apenas lamento. Lamento porque a argumentação se dá na “estranha” sensação de voltar há alguns anos e me sentir a adolescente que há pouco tempo fui. E deve ser essa a principal sensação que se não te convenceu deve fazê-lo em seguida: precisamos deixar de lado a expressão carrancuda que adquirimos no trabalho; deixar o relógio correr; a imaginação viajar; deixar que a sobriedade e os pés no chão não sejam a linha mestra; é à loucura que devemos dar espaço; são os devaneios; a embriaguez e incerteza dos sentimentos que devemos dar um espaço. À frieza já ofertamos demais. E por isso, se me acusarem novamente de cair na deles e ler o que a moda dita, falarei, tranquila como fala Bella quando Edward a toca: é um romance de encher de alegria o coração. E se você não for capaz de conviver com a simplicidade que isso significa dificilmente entenderá. Independente se a história é sobre vampiros ou se acontece longe daqui. Trata sobre o amor. Da maneira mais pura; como ele deve ser e “para sempre”. Também por isso, não vejo a hora em que tenha nas minhas mãos os próximos capítulos com essa história. Tem feito bem à imaginação e àquele sentimento que resgatei dos meus 16 anos. Então, em alguns dias devo reencontrá-lo e aqui o apresentarei e espero que você também o esteja esperando. Um sinal de que estamos abertos à sensações fúteis e bestiais de rir da felicidade dos outros. Começamos pelo livro e, de repente, a febre possa se expandir. Já imaginou? Não? Então, esqueça a verdade e recomece a sonhar. Acredite: faz bem!

Boa leitura!