2.04.2009

Em que crêem os que não crêem

O ser humano ao longo de sua trajetória passou por inúmeras experiências e absorveu conhecimentos distintos que o levaram a descobertas inimagináveis. Esse conhecimento fez o homem pensar, refletir e indagar a respeito de assuntos, até então, considerados acabados. De maneira resumida e, talvez até simplista, entendemos, então, o conhecimento (e esse não é apenas teórico) como alavanca propulsora de idéias, proposições e projetos. Algumas foram (e ainda são) geniais, outras maquiavélicas, prepotentes, ou perturbadoras, dependendo, claro de quem as concebeu.
Muitos desses pensamentos foram bem aplicados e deram resultados positivos. Prova disso é a tamanha produção e criação desenvolvida pelo homem. Outras, no entanto, poderiam nem ter surgido, mas assim se constrói a história.
O duelo entre boas e más intenções inicia tão logo o surgimento dos povos e, nesse primeiro ponto, temos já dois caminhos distintos de proposições: um que defende a criação do mundo por Deus e outro que, pela ciência, explica tudo através de uma série de acontecimentos que desataram no big beng.
Nem bem começamos a dissertar sobre o assunto e logo surgem contrapontos. Podes perguntar se isso é ruim. De forma alguma. É com o debate de idéias que crescemos, aprendemos e desenvolvemos o senso crítico. E tudo o que foi dito até agora tem apenas a função de apresentar o livro “Em que crêem os que não crêem”, um diálogo entre Umberto Eco e o padre Carlo Maria Martini, publicado pela revista italiana Liberal, na década de 90.
O debate tem como foco principal tratar da ética, mas, ao entrar nesse perigoso terreno, Eco e Martini falam também de questões como a obsessão por um apocalipse salvador, a esperança que surge de “um fim”, o início da vida humana e homens e mulheres segundo a igreja. Neste último tema, cabe a citação do autor com seu posicionamento frente o divórcio, principalmente entre os católicos: “não vejo por que os laicos têm que se escandalizar quando a igreja católica condena o divórcio: se quer ser católico, não se divorcie, se quer se divorciar, faça-se protestante; reage só se a igreja pretende impedir a si, que não é católico, que se divorcie”.
Quando falado sobre a ética, os caminhos defendidos são ainda mais contrários. Martini propõe que a ética vem, basicamente, de um preceito religioso, ou seja, aqueles que em nada crêem não possuiriam, então, a ética, isso porque não teriam o alicerce básico para se sustentar. Eco, por sua vez, fala que não necessariamente seja preciso crer em Deus para manter uma ética de vida estabelecida. O autor propõe que é possível mantê-la se houver amor ao outro. Simplesmente! Tomando como parte o segundo pensamento, o homem se portaria conforme os seus próprios mandamentos e “para aqueles que a tudo designam punição, ele mesmo (o homem) se punira, talvez de maneira mais cruel ainda”, argumenta o autor.
Esse é um pensamento que poderíamos caracterizar como “designo de absoluta liberdade”, pois deixa as pessoas a la vonté para que possam decidir o caminho a seguir. Mas, não é assim que “a música toca”.
Temos regras, leis, normas. E não são poucas. Para toda ação, uma sansão. Pensar em outra maneira do homem se portar como civilizado é, no mínimo, desafiador. Por isso, o que fica mesmo é “crença” de que, talvez, pudéssemos viver em um ambiente com pessoas de boa fé, sem ganância, injustiça e julgamento. No entanto, para isso cada um precisa entender o que é ética pessoal e profissional, mesmo que elas se complementem. Se caminharmos com as duas juntas quiçá tenhamos uma história um pouco diferente. 
Boa Leitura!