9.17.2008

Retratos de exclusão


Nada como ter liberdade. Poder decidir o que quer e o que não quer. Sentir o gostinho de decisão nas pequenas coisas, realmente, é extasiante. Este “poder” de decidir nos torna mais astutas e influentes, mesmo que a resolução a ser tomada diga respeito apenas a nós mesmos.
Ok! Até aí o relato (desabafo?) não trouxe novidade alguma a estas poucas linhas. Por quê? Porque tudo vai muito bem até o momento em que passamos a decidir pelo outro. Tanto faz se na vida a dois, três, quatro, ou o escritório inteiro. Decidir por outra pessoa é tornar obsoleto o sentimento de “liberdade” acima mencionado. É anular vozes que surgem ao nosso redor. Poderia até dizer que é “etnocentrismo puro”, se é que a expressão existe.
Isso, sem falar no julgamento. Ahh, como somos severos, por vezes até carrascos conosco, com amigos, irmão, pai, mãe, etc.. Somos peritos em julgar, dar sentenças e prever punições. Punições estas que, é claro, indicamos conforme a “atrocidade” que nós (puros e sábios) julgarmos incoerentes. E, em alguns momentos, quando percebemos fomos longe demais. A tendência é que estes julgamentos piorem quando tratamos de algo desconhecido, ou algo que tenha um forte grau de preconceito. Exemplo? HIV/Aids.
A doença existe há três décadas. No início, era conhecida como “peste gay”, por ter sido detectada em homossexuais americanos, sendo a ser considerada uma punição por tal prática (eis o JULGAMENTO). Na década de 90, a doença esteve associada à promiscuidade ou ao convívio de situações de risco, como o uso de drogas injetáveis e o compartilhamento de seringas.
Cansado de ouvir falar em HIV/Aids? Então, preste atenção nos dados abaixo e pense, realmente, se este é um “problema” penas de quem tem o vírus.
De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde, cerca de 40 milhões de pessoas possuem a enfermidade, das quais 20 milhões já morreram. A cada segundo acontecem 14 novas infecções. As mulheres representam 43% do universo de adultos. Desde o início da epidemia, mais de quatro milhões de crianças com menos de 15 anos já adquiriram o vírus em todo o mundo. Acrescentamos a esta lista, os familiares e a rede de convívio de pessoas com a doença, que de alguma forma sofrem com os seus reflexos.
Como pôde ser observado, são muitas as pessoas envolvidas pelo vírus. E, foi para da um “chacoalhão” no preconceito relegado a estas pessoas que, em 2004, Silvia Regina Mendes lançou “Retratos de Exclusão”. Trabalho que faz uma síntese da história da doença, da criação do Grupo de Apoio e Prevenção à Aids de Chapecó, Gapa, em 1985, e, mais ainda, sobre a discriminação aos portadores da doença. Para isso, Silvia usou de depoimentos de pessoas que convivem com o vírus, familiares e voluntários. Se a intenção era chocar e emocionar. Funcionou.
Talvez, lendo o livro possamos ter uma vaga idéia do que um pré-julgamento pode causar na vida de uma pessoa. Aqui foi citado o caso de HIV/Aids, mas quantos outros julgamentos terão de ser feitos até que respeitemos a diferença, escolhas, modos e vida enfim, até que respeitemos a vida dos outros?

“É muito fácil falar de preconceito, mas muito difícil ser vítima dele. Para saber o que se passa, é preciso ser um paciente e carregar no sangue o estigma de uma doença, cuja única certeza é ter que conviver com ela até a morte”, Silvia Regina Mendes.

 
Boa Leitura!

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