O ser humano é por si só insatisfeito. Busca sempre mais, e de variadas maneiras. Nunca nos contentamos com o almoço do dia, o elogio do chefe (ou do namorado). Como diz a música: queremos sempre mais. Esta busca insaciável também nos torna inconstantes. Nunca somos os mesmos, porque nossos objetivos também não são. Claro, não falo aí das posturas adotadas como empregado, “patrão”, líder, mas sim de nossa inconstância psíquica e emocional. Desenvolvemos nossas atividades rotineiras tal como devem ser feitas. À noite paramos para pensar e nos vem a sensação que nada foi feito. Por quê? Arrisco uma resposta: porque, na maioria das vezes, não fazemos aquilo que gostaríamos de fazer. Fazemos o que DEVE ser feito. E, como os dias passam depressa, em alguns momentos somos até incapazes de perceber isso. Deixamos então, ao inconsciente que “cuide” do nosso desejo recalcado e continuamos.
A falta de tempo é, além de uma boa desculpa quando não se quer visitar a sogra, um prejuízo à criatividade e à emoção humana. Olhamos nossa lista de coisas a fazer e comparamos com o tempo: deixamos de lado o livro e o CD, também a viagem e a visita ao velho amigo (mesmo porque o dinheiro está curto). Fazemos o que é realmente necessário. Mas e se, de repente, você soubesse que morreria amanhã? O que você faria nas próximas 24 horas?
Como exercício, tentei pensar em algumas coisas. Se não for parecer petulância, sugiro o mesmo a quem lê esta resenha. Então, em meio aos meus devaneios “decidi” que se morresse amanhã acordaria mais cedo, veria o nascer do sol, encontraria pessoas distantes, falaria o que está engasgado na garganta, faria coisas que nem sequer posso imaginar, enfim, faria tudo o que fosse possível para não partir desta para uma melhor sem ter aproveitado um pouquinho. O sentimento é de desnorteio. São tantas coisas que não consigo citar mais que estas. Talvez, os leitores tenham encontrados muitas outras “atividades” para este dia fúnebre e definitivo. E, somente talvez, isso seja uma prova de quão somos mesquinhos com nossas vidas. Porque pensar em “coisas assim” somente próximo ao fim? Ok. A resposta já surgiu: precisamos trabalhar, cumprir funções e obrigações, em suma, devemos dançar conforme a música. E, pensando assim, até que seria bom se tivéssemos alguém que nos falasse desse dia. Alguém que nos dissesse: “aproveita que amanhã não tem mais”, talvez assim, a nossa listinha de “afazeres” diminuiria. Mas, talvez tenhamos o mesmo azar que Santiago Nasar e percebamos a morte perto demais para que seja possível fazer algo de diferente. Quem é Santiago Nasar? Ele é aquele que todos sabiam que iria morrer, mas que não tiveram coragem de avisar. Ele é o personagem criado por Gabriel García Márquez em “Crônica de uma morte anunciada” para nos chamar a atenção de que nem sempre somos informados de coisas assim, relevantes. A morte dele foi anunciada para quem quisesse saber. Apenas ele não soube o fim que teria. Gabriel García Márquez nos avisou, e agora?
Boa Leitura!
Um comentário:
Eu realmente me arrepiei ao ler esta resenha. Não só pela facilidade com que vc conduz as palavras, mas tbém com o teu jeito peculiar de linkar os assuntos fazendo com que, eu em particular, me prendesse no texto e só parasse no fim. Eu te admiro muito e adoro ler os teus textos!!! Bjãoooo
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