1.21.2009

O ovo apunhalado

O que tem um ovo? Como um ovo te observa? Você já se imaginou conversando com algum? Parece loucura, não?! Imagine só: você, trabalhador honesto; religioso por convicção, encarando aquela casca branca que te indaga e te escuta. Mas, e se esse não for apenas um ovo? Se for um ovo apunhalado?
Bom, certamente, muitos de vocês leitores devem imaginar que a loucura anda solta por essas bandas (e também não seremos “loucos” de dizer que isso não aconteceu). No entanto, se deixássemos a sobriez de lado e, no delírio da mente, fizéssemos o que nos vem à mente. Dessas coisas que só à imaginação compete e que, irrefutavelmente, fingimos excluir, deixar para os sonhos. Se, de repente, fôssemos capazes de fazer tudo o que desejássemos daí, então, você conversaria com um ovo?
Esquecendo as retrospectivas, visitas de parentes longícuos, reveillon, comilança (típicas do período), planos e mais planos, voltemos nosso pensamento para o ovo apunhalado e tantos outros temas que nos vêem à cabeça sem nexo ou “fundamento”. Como, por exemplo, o assunto “ordens”.
Ordens são assim empregadas para designar algo a ser feito por alguém em um determinado momento. Muitas delas são descumpridas, passadas por cima, simplesmente ignoradas. Fácil assim: descartadas. Mas fiquemos aqui com aquelas cumpridas. Um exemplo: disse Caio Fernando Abreu “Para ler ao som de Lucy in the sky with Diamonds, de Lennon e McCartney”. Uma ordem clara; exata; direta. A disposição apontada pelo autor gaúcho não nos dá outra opção além de procurar o CD e escutar então a história da Lucy no céu com diamantes. Pronto.
A primeira ordem foi seguida. Agora nos restam as próximas. Estas, nem tão claras assim, nos levam apenas a devaneios ainda mais inconstantes. “Lucy in the Sky with Diamonds” (4X), cantam Lennon e McCartney.
É, ao som dessa bela canção, que conhecemos o ovo de Caio Fernando Abreu em uma seleção de contos no livro assim intitulado “O ovo apunhalado”. Neles, o autor fala, além de ovos, de coisas que gostamos. Dessas que batemos o olho e não tiramos o pensamento; que podem levar a delírios inimagináveis, desejos e pensamentos oblíquos.
O autor nos fala da nossa vontade de “não-precisar-de-ninguém”, mesmo quando mais precisamos. Vontade de se sentir livre para sonhar, imaginar oásis na calçada, comprar gravatas coloridas mesmo que elas nos enforquem. Vontade de sentir a liberdade para viver. Sem pensamentos ocultos. Sem censura, boicote ou revolução. Afinal, se até os ovos são apunhalados o que será de nós que nem casca temos? O ideal é viver. Viver sempre como se nada mais houvesse (e, realmente, não há). Viver de tal forma que seja possível esquecer do ano que passou sem medida, das palavras que não foram ditas, das lágrimas retidas. Viver e viver. Sem insegurança e totalmente entregue. Assim, talvez, sejamos transparentes em nossos sentimentos como é a clara de um ovo. Ou, pelo menos, teremos tentado não ser assim tão “normal” e correto. Para aqueles que quiserem tentar, fica a dica.

Boa Leitura!

3 comentários:

Investidor Universitário disse...

Texto muito bom!! Loucura pura! :)

Anônimo disse...

Muito bom! Com a exposição convidativa dessa resenha certamente lerei o livro! Obrigada.

Lara Vinícius disse...

Incrivel