O ser humano tem uma capacidade única de bipolarizar quaisquer que seja a situação em destaque. Existe o certo e o errado, o bom e o mau, o com vergonha e sem vergonha, a verdade e a mentira, o amor e o ódio. Temos uma dificuldade imensa em aceitar e reconhecer o meio termo. Ou é um ou outro. E, nossa, como isso é difícil!
Difícil, porque tem momentos que somos meio sem vergonhas, que não fazemos só o certo e nem por isso erramos, que não amamos, mas também não odiamos; tem momentos que sequer sabemos o que somos e ainda assim precisamos ter um posicionamento. Chega de sim ou não. Vamos, agora, apelar para o talvez!
Talvez você queira um jantar à luz de velas, mas depois vá amar uma noite pervertida; quem sabe não queira decidir, pelo menos por uma noite, onde será a esticadinha; talvez você seja uma doida varrida ou uma santa, talvez prefira bossa nova ao rock n’ roll, talvez, talvez, talvez....
Tantos talvez por puro cansaço ou porque, simplesmente, ninguém decide tudo sempre. Ninguém é sempre o mesmo. Todas as santas um dia ficam doidas (a parte, óbvio, a Nossa Senhora) e todas as doidas são um pouco santas (pelo menos na igreja). Essa talvez seja a variável mais inconstante tanto para eles, quanto para elas. Da doidice à santidade existe um longo caminho. É sobre essa distância que Martha Medeiros, mais uma vez brilhantemente, nos fala em “Doidas e Santas”. A coletânia de crônicas publicadas de 2005 a 2008 é de fazer rir, pensar, pensar e aff, ver que, realmente, muitas coisas passam pelo nosso dia-a-dia e nem percebemos.
“Não acredito que haja uma única mulher no mundo que seja santa”, escandaliza a autora. ”Marmanjos” aborrecidos com a afirmação que revejam seus conceitos, mas é verdade. Santa só mesmo por cansaço ou naqueles dias que é melhor baixar a cabeça, calar e fazer de conta que tudo está nos conformes. De resto, somos todas extravagantes, insensatas, por vezes imprudente, entusiasmadas demais e, claro, apaixonadas ao extremo. Com nós (mulheres) tudo é exagero, é vital e imprescindível. Tudo! Por isso, Martha Medeiros não exagera em nada quando diz que “nascemos com um dispositivo interno que nos informa desde cedo que, sem amor, a vida não vale a pena ser vivida, e dá-lhe usar o poder de sedução para encontrar ‘the big one’, aquele que será inteligente, másculo, se importará com nossos sentimentos e não nos deixará na mão jamais. Toda mulher é doida. Impossível não ser”. Você ainda tem dúvida? Acha mesmo que sua namorada não faz parte desse time de loucos? Esquece! Ela disfarça bem... No máximo, o que pode acontecer é que algumas guardaram “a loucura em uma gaveta e não lembram mais”. Daí, só começando tudo de novo e experimentando novas loucuras e doidices. Assim a vida vale a pena!
Boa Leitura!