3.18.2009

O nariz


Uns tem alergia à poeira, outros à primavera e há ainda quem tenha sinusite. A todos esses o maior alvo é o nariz. Aqueles dois pontinhos nos desenhos de criança, passam então de passivos a ativos e nos fazem querer, em determinados momentos, arrancá-los. Há ainda os momentos em que parecem servir apenas para alojar uma espinha, cravos ou segurar óculos.
Por isso mesmo, certamente muitos de vocês já devem ter pensado em como seríamos se, simplesmente, não tivéssemos nada “entre as bochechas”; se no lugar do nariz tivesse somente uma lisa pele, sem buraquinhos, nem alojamento de cravos melindrosos. Provavelmente não seja tão fácil quanto parece. Afinal, pensar assim, seria imaginar outro aspecto da natureza humana, outra constituição física e, até mesmo, outro aparelho respiratório, já que este inicia nas fossas nasais.
Deixemos essa parte mais técnica de lado e nos concentremos nas que causam (de imediato) maior impacto: o aspecto físico. Todos ou pelo menos a maioria hão de concordar que, por hábito, o nariz constitui parte importante na beleza de cada ser humano. Uns são mais largos, outros finos, achatados ou volumosos, mas cada um possui a sua particularidade que faz de um indivíduo diferente de outro (claro, aliado a outras características também).
Tendo isso em mente, imaginemos, então, um cidadão que certo dia acorda sem o nariz. Imaginemos, para maior divagação, uma figura púbica “na pele” desse cidadão (ou imagine a você mesmo nessa situação). Essa pessoa, então, acorda, lava o rosto e lembra que no dia anterior havia lhe saído uma espinha terrível bem na ponta do nariz. Vai em direção ao espelho para aniquilá-la e, de repente, nada há: nem espinha, nem nariz.
Lógico que num primeiro momento você imaginaria que tudo isso faz parte de um terrível pesadelo, desses que é preciso um beliscão no próprio corpo para ver se é verdade mesmo. Mais absurdo ainda é quando percebe ser verdade sim! O seu nariz, que em nada tinha de especial, sumiu. Nem marcas e nem sinal. Você respira naturalmente, mas eles, os buraquinhos, a espinha que havia se alojado, nada, nem as sardas estão ali. No lugar, uma pele lisa.
Naturalmente, você, ou quem quer que seja que estivesse nesse lugar, ficaria apavorado e totalmente desconfiado em saber quem seria capaz de roubar-lhe objeto de tamanha importância. Afinal, que outra explicação teria um sumiço desses que não um furto.
Tudo isso pode parecer meio ilógico e sem nexo. E, para surpresa de muitos, também assim sugere o autor do livro que orientou esse texto. De acordo com Gogol, autor de “O Nariz”, publicado no ano de 1836, que narra o desaparecimento de um nariz, a obra não passa de uma farsa absurda e inquietante, com uma junção de incoerências. Afinal, aonde já se viu uma pessoa perder o seu nariz! No entanto, lembra Gogol, “o que e onde não existem incoerências”, a vida não é estática, muito menos previsível. Talvez por isso, o autor também sugira que aventuras como esta, mesmo raras, acontecem. Ou seja, é possível imaginar que possa existir a possibilidade de perdermos mais do que apenas o nariz. Perdemos muito mais que isso, a todos os dias e, às vezes, nem percebemos.

Boa Leitura!

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