Há dias que gostaríamos de nos dividir em dois. E não são poucos os momentos que isso acontece. Tanta coisa para fazer, que ter um “clone” iria auxiliar no desempenho das “coisas chatas da vida”. Afinal, vamos combinar, a proporção de atividades assumidas (e acumuladas) é tamanha que acabamos por deixar as que nos dão prazer de lado. Junto com esses “prazeres” perdemos o nosso “outro”, sensível, libertário, cruel e insensato. O “outro” que foge das nossas atitudes “politicamente corretas”.
É pensando nesse “eu” guardado a sete chaves que se discute a dualidade do homem. Dualidade que, por sua vez, diz respeito ao bem e mal que todos carregam (uns com mais bem do que mal e outros mais mal que bem). Ou seja, o bem e o mal que não desenvolvemos por reprimir e enclausurar devido alguma sanção incorporada. Lembrou de alguma coisa? Um clássico, talvez?
Se a resposta for sim, os leitores com certeza já leram “O médico e o monstro”, de Robert Louis Stevenson, escrito em 1886. O livro, além de um belo caso policial, traduz interfaces do pensamento humano e sua infinita disputa entre cosias “boas” e “ruins”. Dessas que, como cita o autor, sufocam prazeres e restringem possibilidades. Não que isso seja de um todo mal, afinal precisamos de algum ordenamento para viver em sociedade. O que se discute são as possibilidades de felicidades não convencionais deixadas de lado.
“Acabei por sufocar meus prazeres e, depois de anos de reflexão, ao olhar ao meu redor e avaliar meu progresso e minha posição no mundo, percebi-me já comprometido com uma profunda duplicidade de vida: o bem e o mal”, diz o autor em determinado momento da narrativa. No entanto, como já dizia Nietzsche (1887), o juízo “bom” provém daqueles que demandam da “bondade” (o que também ocorre com a maldade), quer dizer, foram os próprios bons, “os homens distintos, os poderosos, os superiores, que julgaram ‘boas’ as suas ações”. Assim, no momento que se distingue o bom do mal é preciso levar em consideração a quem isso é atribuído e como é exercido.
A busca do médico (e monstro) era, então, localizar uma identidade diferente (o outro) e encontrar um alívio para tudo o que era insuportável na vida assumida (status e posição social, vida acadêmica, etc.). Nessa outra identidade, o injusto tomaria seu próprio rumo, livre das aspirações e remorsos de gênero repressor, e, assim, “poderia andar com firmeza e segurança em seu caminho ascendente, fazendo as coisas boas nas quais encontra seu prazer e não mais se expondo à desgraça e à penitência pelas mãos desse estranho mal”.
Libertário ou não, o cidadão ora médico, ora monstro nos faz pensar nessas cosias que não fazemos e que sequer pensamos se gostaríamos de fazer. Segundo a introdução do livro, o mesmo foi escrito a partir de um sonho do autor que, ao acordar, lembrou de uma “boa história de terror”. Não exagerou em nada em sua descrição. E conseguiu ainda nos levar a pensar o que faríamos se tivéssemos o reflexo do “outro” no espelho? Sentiríamos medo também? Ou o nosso “eu” não se difere muito do que somos hoje?
Boa Leitura!
É pensando nesse “eu” guardado a sete chaves que se discute a dualidade do homem. Dualidade que, por sua vez, diz respeito ao bem e mal que todos carregam (uns com mais bem do que mal e outros mais mal que bem). Ou seja, o bem e o mal que não desenvolvemos por reprimir e enclausurar devido alguma sanção incorporada. Lembrou de alguma coisa? Um clássico, talvez?
Se a resposta for sim, os leitores com certeza já leram “O médico e o monstro”, de Robert Louis Stevenson, escrito em 1886. O livro, além de um belo caso policial, traduz interfaces do pensamento humano e sua infinita disputa entre cosias “boas” e “ruins”. Dessas que, como cita o autor, sufocam prazeres e restringem possibilidades. Não que isso seja de um todo mal, afinal precisamos de algum ordenamento para viver em sociedade. O que se discute são as possibilidades de felicidades não convencionais deixadas de lado.
“Acabei por sufocar meus prazeres e, depois de anos de reflexão, ao olhar ao meu redor e avaliar meu progresso e minha posição no mundo, percebi-me já comprometido com uma profunda duplicidade de vida: o bem e o mal”, diz o autor em determinado momento da narrativa. No entanto, como já dizia Nietzsche (1887), o juízo “bom” provém daqueles que demandam da “bondade” (o que também ocorre com a maldade), quer dizer, foram os próprios bons, “os homens distintos, os poderosos, os superiores, que julgaram ‘boas’ as suas ações”. Assim, no momento que se distingue o bom do mal é preciso levar em consideração a quem isso é atribuído e como é exercido.
A busca do médico (e monstro) era, então, localizar uma identidade diferente (o outro) e encontrar um alívio para tudo o que era insuportável na vida assumida (status e posição social, vida acadêmica, etc.). Nessa outra identidade, o injusto tomaria seu próprio rumo, livre das aspirações e remorsos de gênero repressor, e, assim, “poderia andar com firmeza e segurança em seu caminho ascendente, fazendo as coisas boas nas quais encontra seu prazer e não mais se expondo à desgraça e à penitência pelas mãos desse estranho mal”.
Libertário ou não, o cidadão ora médico, ora monstro nos faz pensar nessas cosias que não fazemos e que sequer pensamos se gostaríamos de fazer. Segundo a introdução do livro, o mesmo foi escrito a partir de um sonho do autor que, ao acordar, lembrou de uma “boa história de terror”. Não exagerou em nada em sua descrição. E conseguiu ainda nos levar a pensar o que faríamos se tivéssemos o reflexo do “outro” no espelho? Sentiríamos medo também? Ou o nosso “eu” não se difere muito do que somos hoje?
Boa Leitura!
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