7.08.2009

Tique... Taque


Dificilmente escutamos o silêncio. E, num primeiro momento, isso até parece meio antagônico já que o silêncio não emite ruído qualquer. No entanto, talvez por isso alguns digam o sentir. Mas, aí já é outro “departamento”; cabível apenas às pessoas extremamente sensíveis e com um bom tempo para parar e refletir sobre o que vem de dentro (quase profundo isso!). Por que o silêncio, diferente do barulho do caminhão, não dói no ouvido; se aconchega suave a ponto de nem o percebermos. E aí está um possível “problema da vida moderna”: ouvir coisas demais e não sentir.
Fazemos inúmeras coisas que até esquecemos de perceber, batendo na pele, outras tantas; coisas que não gritam, que sequer podemos tocar; dessas que não têm no mercado e nem dá pra por no cartão de crédito; mas que nem por isso deixam de ter a sua importância. É algo como o tique taque do relógio: o tempo poderia, tranquilamente, passar sem ele, sem ruído; só pela mudança dos ponteiros e nada mais. No entanto, ali está “tique taque, tique taque” repetindo-se de maneira despretensiosa e parecendo não perceber que precisamos que ele vá mais devagar; que ele pare em alguns momentos. Então, ele simplesmente corre e, de repente, escutamos um estrépito maior quebrando o silêncio e percebemos, então, que o dia passou; as atividades não foram cumpridas e, sim, pode acreditar, já fazemos parte de um novo dia começado aos trancos.
Por ser algo rotineiro, não são todos os que conseguem distinguir este som; diferenciar um relógio de um trovão ou de um grunhido é apenas para alguns. Outros, só escutam, sem saber ao certo o quê. Escutam, esquecem e continuam vivendo. Se isso é melhor ou pior, quem poderá dizer; apenas não diferenciam mais o barulho do tique taque. Quem sabe tenha sido essa a grande causa da demência de Arturo de Maracielos: não escutar mais o som e ao mesmo tempo ser o som; ser a máquina do relógio; controlar os ponteiros. Ou, de repente, talvez ele seja mais um dos tantos “dementes” que apenas fingem ser; e desses, temos aos montes: uns que não sabem de nada nunca; outros que põem a culpa no companheiro do lado; e aqueles que furam a fila fingindo esquecer de algumas normas. É a trapaça, a ganância, a esperteza disfarçada de loucura; a demência de querer ser um relógio para controlar o tempo, no entanto, nem este, nem o silêncio são domados.


* Tique... Taque, de Alarcon.

Boa leitura!

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