Na semana passada, falávamos de memórias. Dessas que surgem sem mesmo desejarmos e das que tentamos, tentamos e nada! Fingem desaparecer. E é tentando lembrar o foco tratado anteriormente, que também de memórias trataremos nesta resenha. Mas agora outras memórias. Dessas que são íntimas e que, no entanto, gostaríamos de transmitir a outros. Memórias que não veem em ordem cronológica e sequer representam a verdade dos fatos. Simplesmente memórias de alguém que viveu um bocado de tempo e sente que o seu papel estará cumprido depois que fizer este último “serviço”.
Há quem diga que todos devem ter a experiência de escrever um livro e alguns o fazem mediante experiência profissional; outros, mais audaciosos, escrevem memórias tal como a que falávamos acima. Memórias que Chico Buarque de Hollanda recria tão bem em “Leite Derramado”, recente livro lançado pelo poeta e escritor.
No livro, temos memórias que às vezes se repetem, levando a crer na demência do relator. Porém, a fim de evitar que esta injúria aconteça, ele logo se defende e diz: “não é por demência senil, é porque certas histórias não param de acontecer em nós até o fim da vida”. É, talvez senil não seja, realmente, a palavra adequada para descrever alguém que menciona isto. Nada mais certo e verdadeiro que a repetição de histórias em nossas vidas.
Os dias passam de tal maneira que tudo parece se repetir, sempre. Acaba virando monotonia e, de certo para que não caíssemos no derradeiro fim da repetição, inventaram as novidades, também chamadas surpresas. Estas geralmente acontecem de maneira mais escandalosa na vida afetiva dos indivíduos. Se passa assim: você leva a vida fazendo as coisas tal como julga ser o adequado; passa um ano, dois, três ou simplesmente alguns dias e meses, não importa. O tempo passou e a cada instante em que você percebe que “está tudo na mesma” bate aquele aperto e uma sensação desgraçada de não sentir mais “tesão” nas atividades rotineiras. Até o momento em que, para provar que nem tudo está perdido, você é acometido por um inesperado acontecimento. Algo que te tira da mesmice, te faz rir e pensar em voz alta: “poxa, e não é que isso aconteceu”!.
Pois é, mas não se anime muito não, logo surge algo que te leva de volta à realidade. Isso porque, mesmices só são alteradas por acontecimentos que levam a gente sorrir um sorriso mais verdadeiro, e que logo se vão embora, porque, do contrário, perderiam a graça. Assim elas somem, ficam na memória e um dia ou outro lembramos delas. E, daí, talvez até tentemos colocá-las no papel a fim de montar uma narrativa de algo que julguemos importante. Talvez elas desapareçam como um todo ou não. E isso ninguém, a não ser o tempo, poderá dizer. Somente ele possibilita a existência de memórias nem que seja para esquecermos da realidade. Esquecer que se passaram anos e a Matilde não voltou, como no livro. Às vezes acontece: as pessoas vão embora e não voltam mais. Ficam apenas no espaço a elas reservado em parte de nossa história que, quiçá um dia, seja tratada como a de Eulálio d’Assumpção.
Boa leitura!
Há quem diga que todos devem ter a experiência de escrever um livro e alguns o fazem mediante experiência profissional; outros, mais audaciosos, escrevem memórias tal como a que falávamos acima. Memórias que Chico Buarque de Hollanda recria tão bem em “Leite Derramado”, recente livro lançado pelo poeta e escritor.
No livro, temos memórias que às vezes se repetem, levando a crer na demência do relator. Porém, a fim de evitar que esta injúria aconteça, ele logo se defende e diz: “não é por demência senil, é porque certas histórias não param de acontecer em nós até o fim da vida”. É, talvez senil não seja, realmente, a palavra adequada para descrever alguém que menciona isto. Nada mais certo e verdadeiro que a repetição de histórias em nossas vidas.
Os dias passam de tal maneira que tudo parece se repetir, sempre. Acaba virando monotonia e, de certo para que não caíssemos no derradeiro fim da repetição, inventaram as novidades, também chamadas surpresas. Estas geralmente acontecem de maneira mais escandalosa na vida afetiva dos indivíduos. Se passa assim: você leva a vida fazendo as coisas tal como julga ser o adequado; passa um ano, dois, três ou simplesmente alguns dias e meses, não importa. O tempo passou e a cada instante em que você percebe que “está tudo na mesma” bate aquele aperto e uma sensação desgraçada de não sentir mais “tesão” nas atividades rotineiras. Até o momento em que, para provar que nem tudo está perdido, você é acometido por um inesperado acontecimento. Algo que te tira da mesmice, te faz rir e pensar em voz alta: “poxa, e não é que isso aconteceu”!.
Pois é, mas não se anime muito não, logo surge algo que te leva de volta à realidade. Isso porque, mesmices só são alteradas por acontecimentos que levam a gente sorrir um sorriso mais verdadeiro, e que logo se vão embora, porque, do contrário, perderiam a graça. Assim elas somem, ficam na memória e um dia ou outro lembramos delas. E, daí, talvez até tentemos colocá-las no papel a fim de montar uma narrativa de algo que julguemos importante. Talvez elas desapareçam como um todo ou não. E isso ninguém, a não ser o tempo, poderá dizer. Somente ele possibilita a existência de memórias nem que seja para esquecermos da realidade. Esquecer que se passaram anos e a Matilde não voltou, como no livro. Às vezes acontece: as pessoas vão embora e não voltam mais. Ficam apenas no espaço a elas reservado em parte de nossa história que, quiçá um dia, seja tratada como a de Eulálio d’Assumpção.
Boa leitura!
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