9.23.2009

Elite da Tropa


Há algum tempo perguntamos aqui quanto custava a sua moral. Falávamos, na época, sobre um livro do colombiano Gabriel García Márquez. Hoje, com outra ideia na cabeça, perguntamos: quanto custa a sua honestidade? O que lhe faria corromper uma ordem, um preceito ou um juramento? Perguntas que não precisam ser respondidas. Servem apenas como ponto de partida para discutir algo muito em voga neste país tão carente de “verdades verdadeiras”: a corrupção.
Ela que parece estar em todos os setores e assume as mais diferentes proporções de tamanho e gravidade. Uns a praticam por vício, outros por falta de atenção ou por maldade mesmo. É recorrente vê-la presente na política, no entanto, há um bom tempo o termo vem sendo aplicado em outros setores de organização social, dentre eles a polícia.
A segurança pública é um dos gargalos do Brasil. Parece ser um caso perdido. As pessoas sentem medo e não sabem a quem se dirigir. Na dúvida, aumentam os muros, reforçam os portões e se protegem como dá. A falta de “porto seguro”, antes encontrado no policiamento, leva ao desespero e a desesperança. Não é à toa!
No entanto, a insatisfação não é apenas daqueles que esperam o serviço, mas também de quem o exerce. Integrar órgãos como a PM é hoje arriscado e “ridículo”. E motivos para isso não faltam. Com uma valorização salarial desprezível e um caos instalado fica difícil imaginar que haja idoneidade nas funções (não que isso justifique. De forma alguma!). Você parece lembrar de alguma coisa? Talvez o assunto lhe remeta a um forte grito encabeçado pelo mocinho da novela que, exaustivamente, esbraveja: “Pede pra sair!”. Sim! É exatamente isso.
O livro que deu origem ao filme “Tropa de Elite”, “Elite da Tropa”, organizado por Luiz Eduardo Soares, André Batista e Rodrigo Pimentel, se divide em três partes: na primeira apresenta o retrato de um grupo treinado para a guerra. A guerra diária de uma das cidades mais violentas do país, o Rio de Janeiro. Na segunda a obra esmiúça o desenrolar de um (dos tantos) casos de corrupção e politicagem existente dentro das corporações e instituições. No terceiro ponto, uma justificativa; o desabafo de porque escrever sobre as atividades das polícias e os seus bastidores. No entanto, é à corrupção que o livro direciona a abordagem, mais especificamente à praticada na cidade do Rio de Janeiro.
A “cidade maravilhosa”, vista sob outro ângulo, é apresentada em preto e branco; sem espaço para garotas de Ipanemas, nem bronzeados exuberantes. A “Elite da Tropa” sobe o morro e mata; morre; fere; atira e nem sequer sofre. A eles não é concedido o ato de sentir. Treinados para a guerra, querem mesmo é lutar. Eles fazem parte do BOPE (Batalhão de Operações Policiais Especiais), um dos grupos mais requisitados quando se exigia “trabalho limpo”. Criado em 1978, como máquina de guerra, o grupo era sinônimo de lealdade, credibilidade e violência. Ali os soldados gritavam excitados: “sangue frio em minhas veias, congelou meu coração, nós não temos sentimentos, nem tampouco compaixão”.
E é o relato das atividades desse grupo e tantas outras histórias de vida e de morte que você acompanha em “Elite da Tropa”. Hoje, de acordo com o livro, o BOPE não é mais como antes. Nem poderia. Seguiu a moda dos demais setores. E nós aqui “pedindo pra sair” ilesos dessa história toda.

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