8.12.2010

Chapatis e dosas


Na semana passada trazíamos à tona o livro “O que é etnocentrismo”, de Everardo Rocha, e com ele a definição do que esta terminologia significa nas atividades que desenvolvemos cotidianamente. Sabendo, então, que ser etnocêntrico é assumir uma visão do mundo “onde o nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo e todos os outros são pensados e sentidos através dos nossos valores, nossos modelos e nossas definições do que é existência”, podemos imaginar (ou entender) o quão é difícil para alguns aceitarem a existência de culturas e modos de vida diferentes; e também, como é difícil viver na diferença.
É com olhos na harmonia entre estes dois extremos que, nesta edição do Folha do Alto Irani, apresentamos o livro “Chapatis e dosas - meus dias na Índia”, de Stefânia Forner (2006). A obra, da autora chapecoense, não trata sobre conceituações do que é etnocentrismo, mas aborda a dificuldade em conviver com uma cultura tão diferente (pelo menos aos nossos olhos), como a indiana.
O livro é, em suma, um diário. Um diário da farmacêutica que foi à Índia com a intenção de estudar e desenvolver projetos na área de HIV/Aids com crianças e adolescentes sem teto ou que vivem na rua. No entanto, suas atividades foram além destas intenções e como resultado temos a obra em questão.
Embora a Índia possua uma próspera indústria farmacêutica e seja a maior produtora dos medicamentos genéricos para o tratamento de HIV/Aids vendidos no mundo, a terapia antirretroviral não é fornecida gratuitamente a todos os cidadãos diagnosticados com o vírus. Nos grupos estudados pela autora/pesquisadora (36 meninos de 12 a 19 anos e 30 meninas de nove a 18 anos), a maioria tem pouco ou nenhum conhecimento sobre uma doença quer pode ser fatal, se não for tratada adequadamente. E, num país com cerca de dois milhões de infectados esta não-informação é vital para a proliferação do vírus.
Tendo como ponto de partida estes números, podemos conhecer uma “outra” Índia que não aquela das iguarias e especiarias. Conhecemos uma realidade de escravidão, pobreza, prostituição, tráfico de drogas e de órgãos. Um país em que poderemos, como cita a própria autora, odiar e amar no mesmo instante, mas que devemos, sobretudo, respeitar. Um respeito que tenha, em primeiro lugar, noção de humanidade e qualidade de vida.


Boa leitura e até a próxima semana!

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