8.12.2010

A norma oculta

Já ouviu falar de “variedades linguísticas tipicamente estigmatizadas”? Se a tua resposta foi não, tenho quase certeza que posso te convencer do contrário. Achou petulante? Então, calma. Vou me explicar.
Este é o termo utilizado para caracterizar as falas consideradas inferiores à norma gramatical correta, também conhecida como “variante de prestígio da língua”.
Geralmente são usadas por pessoas socialmente discriminadas (por isso a palavra “estigmatizadas”). Ou seja, pessoas que usam termos como “prástico”, “crube” e “bicicreta”. Pessoas que adquiriram estas ferramentas linguísticas durante toda a sua vida. E não é porque não sabem falar, mas sim porque não tiveram acesso aos conhecimentos da variante de prestígio da língua, que exige os usos de ‘plástico’, ‘clube’ e ‘bicicleta’. Não é por incompetência, mas por impedimento pelas condições sociais, econômicas, geográficas etc.
É sobre o termo acima apresentado e, principalmente, sobre o preconceito às pessoas que apresentam estas características que Marcos Bagno (doutor em língua portuguesa) apresenta livro “A norma oculta”.
De acordo com o próprio autor, o livro procura, por meio de um exame sobre as relações entre língua e poder, reagir às profecias derrotistas que discriminam e negam as pessoas que falam desta forma, mostrando o porquê estas profecias não devem ser levadas a sério. Como cita o autor, “quem tiver um mínimo entendimento da história do Brasil e de sua realidade sociolinguística não afirmará que falar de acordo com sua constituição história/social/educacional é um erro”.
A propósito, a partir da leitura de Bagno a concepção do que é certo e o que é errado faz parte de uma linha muito tênue na significação da própria palavra erro. Afinal, acreditar que falamos errado é crer que somos todos errados. É desconsiderar as características de um povo, é desmerecer sua história. É fazer de conta que o preconceito linguístico não acontece no ônibus que nos leva ao trabalho; que não ocorre nas piadas de deboche sobre a “region”. Então, para fechar, nada melhor que o esclarecimento de que “o preconceito linguístico não existe. O que existe, de fato, é um profundo e entranhado preconceito social”. E isso, você já ouviu?

Boa leitura e até a próxima semana!

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