8.20.2008

“Casamento, amor e desejo no ocidente cristão”


Quem nunca sonhou com a marcha nupcial? Festa, convidados e amor eterno? A esperança de ser feliz a dois, ter companhia e alguém para trocar o que se tem de melhor?
Desde que o conhecemos, o casamento é um sacramento a ser realizado por todos os homens de bem, independente de sua religião. Um sacramento abençoado por Deus. Mas, será que foi sempre esse o conceito dado à união de duas pessoas?
A resposta pode parecer curiosa, mas, é não. Nem sempre o casamento foi visto como algo positivo à sociedade. “Casamento, amor e desejo no ocidente cristão”, de Ronaldo Vainfas, revela o porquê de o ato conjugal ser tomado como pecado por, aproximadamente, onze séculos. Segundo o autor, o casamento feria a moral cristã, que estava longe de ser mero rosário de apologias e condenações. Conforme pregavam os cristãos, os perigos da vida conjugal eram enormes, desde as dificuldades de convivência diária à escravidão de se submeter ao outro carnalmente. Toda essa repúdia vinha do fato de que se a virgindade correspondia à verdade e à liberdade, o casamento equivalia à mentira e à escravidão.
Longe de ser sacramento ou mandamento divino, o ato conjugal era um remédio, também conhecido como a “terapêutica do desejo”. Melhor seria que todas as pessoas vivessem castas, mas se não podiam conter-se deveriam casar. Afinal, homens e mulheres se uniam de algum modo e era preciso regularizar a situação. A partir daí, o casamento passou a ser uma prática menos indesejada. Conforme o autor, “voltado exclusivamente para a procriação, o casamento era um bem, embora fosse o pior dos bens”.
O amor conjugal não se impôs como valor ideal do casamento antes do século XIX. Amar, conforme é citado, significava entregar-se a Deus com a alma piedosa e o corpo imaculado, ou seja, não se concebia o amor entre um homem e uma mulher, mas sim o amor a Deus, somente a Ele. E esse amor era o mesmo que obediência, adoração e desencarnação.
Elevado ao mundo do sagrado, redimido enquanto instituição, o casamento foi aceito como espaço legítimo para o uso dos prazeres, desde que voltado para o seu fim natural de reprodução. Mas a concepção do sexo como um mal em si persistiu, e ainda persiste, como um dos sete pecados capitais: a luxúria. E, luxuriosos, segundo Vainfas, eram todos os que, fora do casamento, recusavam a castidade e os que, no seu interior, buscavam o prazer.
“Os cônjuges deveriam querer o bem um do outro, deveriam até manter alguma amizade, desde que no âmbito da caridade”, cita o autor.


Boa Leitura!


“As intermitências da morte”
 

Quem, por um dia sequer, ou algumas poucas horas não sentiu medo da morte? Um pavor que vem do nada, ou surge do simples despertar da imaginação que acaba em tristes pensamentos de o que seria do amanhã sem a existência de cada um de nós. Um sentimento que cada um alimenta a sua maneira e que o escritor português José Saramago descreve muito bem em “As intermitências da morte”, lançado pela Companhia das Letras no ano de 2005.
Em um badalar do relógio ninguém mais morreu na pacata cidade criada por Saramago. Uma cidade que se vê envolta pela ‘mão’ gelada e cálida da morte. E são todas as peripécias do que um acontecimento como este pode gerar que o autor explora neste pequeno romance. Com sarcasmo e ironia, deixa claro sua crítica às reações da Igreja, do Governo, dos filósofos, dos economistas, das funerárias, da máfia (e etc) diante de uma nova realidade.
Em algumas poucas páginas pode-se dialogar com a tão temida morte. Ela que nunca falha e que nunca dorme. Que nunca se deixa levar por nada, mas que de repente ‘resolve’ dar uma trégua aos pretensiosos mortais que tentam, a todo o custo, dar explicações para tudo o que acontece neste mundo como se nada estivesse fora de seu alcance.
É a morte desnuda e tácita que Saramago descreve. A morte como ela é. E, ao final, sem que seja possível perceber ou, simplesmente, sem que seja necessário desejar, nos encontramos envolvidos por um ar que não é mais tão frio como antes.
Ganhador do Premio Nobel de Literatura em 1998, Saramago tem uma vasta obra. Dentre alguns de seus livros estão: “A bagagem do viajante”, “A caverna”, “Todos os nomes”, “O que farei com este livro”, “o Evangelho segundo Jesus Cristo”, “A maior flor do mundo” e “Ensaio sobre a cegueira”.
Boa leitura! 

“Assassinatos na Academia Brasileira de Letras”
 

“Quem é vivo sempre aparece, às vezes morto!”.
Pitadas de humor e graça como esta fazem parte do enredo criado pelo comediante, dramaturgo e escritor Jô Soares em “Assassinatos na Academia Brasileira de Letras”. Publicado em 2005 pela Companhia das Letras o livro é o best seller do autor.
A obra, embora apresente grande pesquisa histórica, é extremamente ficcionista. Misturando realidade e sátira à nostálgica imaginação do autor, “Assassinatos na Academia Brasileira de Letras” proporciona boas risadas aos leitores que se vêem rodeados por mistérios, intrigas e, por mais estranho que soe, assassinatos de imortais.
É assim, brincando com as palavras, que o autor reconstrói o Rio de Janeiro de 1924; descreve personagens bizarros (Machado Machado, Galatea, Camilo Rapozo, dentre outros) e prende a atenção dos leitores do início ao fim de cada uma das 252 páginas.
Jô Soares é autor de “O flagrante”, “O astronauta sem regime” e “O humor nos tempos de Collor”. Como romance, também escreveu “O Xangô de Baker Street” que foi publicado no ano de 1995, lançado em 12 países e adaptado para o cinema em 2001 e “O homem que matou Getúlio Vargas”, de 1998, que teve sete edições estrangeiras. Juntas, só estas duas últimas obras venderam 1,3 milhão de exemplares no mundo.
Boa leitura!


“Dicionário nada convencional”
 

Dicionários, na maioria das vezes, são chatos e grandes. Grandes de mais para que possa ser absorvido o conteúdo apresentado. Por isso, são usados em casos específicos de procura. Geralmente são construídos por um rol de verbetes e possíveis conceituações. Mas não o “Dicionário nada convencional” da antropóloga Arlene Renk.
O “Dicionário nada convencional”, lançado no ano 2000, como o próprio nome sugere, foge de qualquer padrão de dicionários com conceitos conservadores e meras significações. O “Dicionário nada convencional” não segue a seqüência alfabética, ao invés, coloca os termos encadeados, de modo que o último vocábulo invoque o seguinte. Além desta particularidade, o dicionário traz temas contextualizados, ligados uns aos outros e, como cita a própria autora na apresentação do livro, “a ludicidade do texto está em não querer atribuir-lhe um ranço de sisudez, para que os verbetes possam ser degustados com calma e sorvidos em pequenos goles. Ao leitor, fica a liberdade de pulá-los, se assim quiser”.
O livro apresenta 54 verbetes, o primeiro tema abordado é “negro”, cuja definição atribuída é: “designação da população africana”, onde a cor da pele indicava a que raça pertenceriam determinados indivíduos. “Raça é uma criação da história da expansão colonialista européia” e segundo esta denominação, aqueles que não eram brancos e cristãos eram diferentes. “E ser diferente era sinônimo de atrasado e inferior”. E, assim segue o livro. Alguns dos outros temas são: outro, etnocentrismo, racismo, mitologias, contra-história, oeste catarinense, religião, etc.
As fotos que seguem a contextualização feita no livro são da jornalista e fotógrafa, Eliane Fistarol.
Boa leitura!

“Eu sei que vou te amar”


“Você vai entrar pela porta que eu deixei entreaberta,
há uma hora que eu não descolo os olhos
da luz de néon do hall que se filtra como um prenúncio da tua chegada.
Antes de você chegar, você já chega
como uma nuvem que vem na frente...”

“Você me chamou por telefone.
Não te vejo há três meses...
seis anos juntos e agora sem te ver...
pela tua voz no telefone sei que você
está controlando uma emoção,
querendo bancar o homem seguro de si...
e fico desesperada....”

Os trechos acima dão início ao intrigante (e excitante) diálogo criado por Arnaldo Jabor em “Eu sei que vou te amar”, lançado em 1986. Depois de um casamento de seis anos, depois de muitas mentiras, mas também muito amor, uma conversa. Uma conversa difícil em que se pretende falar a verdade como nunca antes. A verdade forjada em sorrisos e carinhos despropositados de um casamento que acabou. Na busca dessa verdade incondicional surgem lágrimas, lembranças e sentimentos controlados para não transparecer tudo. Tudo o que realmente sentiam...
Depois de horas de intenso diálogo, a porta volta a ficar entreaberta, dessa vez para ela sair. Mas nem um nem outro queriam que a porta fosse ultrapassada. Tanta coisa a ser dita... talvez não fosse realmente o fim... talvez fosse a hora de esperar o momento certo.
De maneira esplendida, Jabor nos deixa inteiramente envolvidos pelo destino destes dois apaixonados a procura da verdade do amor. E por isso, Jabor faz questão de lembrar que “a vida só é vida no limite da loucura...e que você só está vivo na beira da morte... só assim vale viver”.
Boa leitura!

“A genealogia da moral”
 

“As minhas idéias acerca da origem dos nossos preconceitos morais hão de achar a sua primeira expressão lacônica, e provisória, na coleção de proposições rotuladas, onde tudo que se chamou de moral nada mais foi que um envenenamento da vida”. Assim inicia “Genealogia da moral” de Friedrich Wilhelm Nietzsche, escrito em 1887 como um complemento de sua obra anterior intitulada "Além do bem e do mal”, de 1886. O livro é composto por três ensaios que tratam de temas como a separação dos valores entre bem e mal – bom e mau; a má consciência e o ideal ascético que acompanha o ser humano.
“A genealogia da moral” aponta o surgimento e o real significado do que é valor ou juízo de valor. Para isso, o autor busca na história elementos que justifiquem o porquê adotamos determinados conceitos como certos, ou porquê assumimos determinada posição diante de algum fato que “surpreenda a nossa moral”. Durante todo o livro, o que Nietzsche procura é esclarecer a verdade: a verdade do existente, das ciências e da metafísica. A verdade sobre os valores morais tradicionais. Para Nietzsche, “o problema da moral, é, definitivamente, um problema de verdade, da conformidade à vontade de domínio enquanto essência de vida (...), pois só há valores à medida que a própria vida os estabelece”.
Nietzsche coloca a importância de perceber que os valores que temos hoje como moral foram construídos por seres humanos, com todas as suas fragilidades e intenções. Ou seja, o valor defendido por estes não correspondem aos mesmos defendidos por pessoas com atividades e pensamentos diferentes. Assim, é necessário perceber o verdadeiro valor intrínseco em cada um destes conceitos. 
Boa leitura!

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